O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, participou da última palestra da 31ª edição do CIAB/FEBRABAN, para falar das perspectivas da instituição regulamentadora do país para o sistema financeiro do futuro.
Campos Neto iniciou a reunião falando sobre como a tecnologia tem se tornado um instrumento de empoderamento para as pessoas, capaz de dar voz a tanta gente, ela se mostrou uma ferramenta de inclusão para inúmeros grupos sociais.
Ele lembrou que estamos adentrando numa fase de evolução tecnológica em que é importante encontrar formas de melhorar a interpretação de dados, para conseguir monetizá-los e poder convertê-los em bons serviços para os clientes.
Dados valem ouro
O presidente do Banco Central explica que atualmente a captura de dados é imensa e há uma “verdadeira corrida do ouro por dados de clientes” no mercado, pois eles possuem enorme valor.
Dois movimentos no setor financeiro são considerados importantes para Campos Neto. O primeiro é o das fintechs, que têm crescido muito no país oferecendo novos serviços aos clientes, inclusive mais baratos do que os dos bancos tradicionais. Já o segundo, diz respeito às redes sociais, que já oferecem serviços de pagamento online, o que representa uma excelente oportunidade de captação de dados dos usuários.
É através dessa captação de dados que as empresas são capazes de conhecer seus clientes e assim tem a capacidade de oferecer produtos e serviços mais alinhados com suas verdadeiras necessidades.
Por isso, o Banco Central está atento a esses movimentos e se preocupa com a competição que pode surgir desses novos mercados que se desenham para o setor financeiro. Mas trabalha, segundo o presidente da instituição, para criar um ambiente homogêneo, no qual todos os agentes devem abrir os dados para a regulamentação.
O sistema financeiro do futuro já começou!
Para Campos Neto, a preocupação com a construção de um sistema financeiro do futuro não pode ser deixado para amanhã. A disrupção é descrita por ele como um “jogo desafiador. Quem não está sendo disruptivo, acabará sofrendo com ela”.
O Banco Central não foge a essa regra, por isso conta com um laboratório de inovação que não para de trabalhar para pensar e propor soluções capazes de preparar o sistema financeiro brasileiro para funcionar adequadamente no cenário inovador previsto para um futuro próximo. “É preciso pensar em ser o regulador do futuro”, diz o presidente.
Ele citou o sucesso que tem sido o Pix no Brasil, menos de um ano após seu lançamento. O meio de pagamento instantâneo vem superando as expectativas em termos de adesão e o presidente do Banco Central conta que ainda estão sendo estudadas novas melhorias para esse serviço. Campos Neto fala ainda do Open Banking, ou Open Finance, como ele prefere chamar, que veio para aumentar a bancarização e melhorar os serviços bancários para os brasileiros a longo prazo.
A moeda do futuro
O mais novo projeto de inovação no qual o Banco Central está trabalhando é o Real Digital. De acordo com o presidente, a instituição tenta criar uma moeda digital que complemente a moeda física e não crie disrupção financeira.
Campos Neto explica que criar o Real Digital é um grande desafio. Essa moeda servirá para o mundo 5G, para ser usada em contratos digitais, com ela será possível fazer transações transfronteiriças. Para isso, ela precisa ser rastreável, o que demanda uma tecnologia não trivial.
Portanto, ainda existem muitas perguntas a serem respondidas acerca dessa solução e o Banco Central não tem um prazo fixo para entregá-la. O que se sabe é que “é preciso pensar fora da caixa, pensar no futuro e correr algum risco para não ficar só na regulamentação do futuro”, afirma Campos Neto.